Web 2.0, ciência aberta e comunicação científica: [r]evolução
A relação entre ciência aberta e as transformações da Web 2.0 rumo à Web Semântica reflete a essência de um movimento que busca redemocratizar o acesso e a produção do conhecimento na contemporaneidade. Quando pensamos na Web 2.0, falamos de uma internet que permitiu a criação de conteúdos de forma colaborativa, dinâmica e acessível. Essa revolução tecnológica rompeu com a lógica unilateral de produção de informações e possibilitou que qualquer indivíduo pudesse ser não apenas receptor, mas também produtor de conteúdos. Redes sociais, blogs, wikis e plataformas de compartilhamento criaram um espaço onde vozes plurais puderam se expressar, inclusive no campo científico.
No entanto, essa democratização inicial ainda esbarrava em limitações: o excesso de dados desorganizados, a dificuldade em encontrar informações confiáveis e, sobretudo, a falta de integração entre diferentes sistemas de conhecimento. É aí que entra a Web Semântica, trazendo a possibilidade de organização mais inteligente e conectada. Ela propõe um ambiente onde os dados não são apenas acessíveis, mas interligados de forma significativa, permitindo interpretações mais complexas e contextualizadas.
A ciência aberta, por sua vez, encontra na evolução para a Web Semântica uma aliada poderosa. A abertura dos dados científicos, quando associada à capacidade da Web Semântica de relacionar informações de forma significativa, cria um cenário onde o conhecimento pode ser compartilhado e reutilizado de forma mais eficiente. Por exemplo, repositórios digitais de dados científicos estruturados em padrões semânticos não apenas ampliam o acesso à informação, mas também permitem que ela seja compreendida e utilizada em diferentes contextos, rompendo com barreiras epistemológicas e geográficas.
A comunidade científica em algum grau capturou o movimento emergente da cultura hacker, que difundiu ideias de liberdade, colaboração e distribuição de conhecimento acerca da programação e estruturas de programas, que serviu para o processo de compreender que todo conhecimento científico também deveria estar acessível, aberto e sem taxa financeiras impostas.
Essa conjunção entre ciência aberta e as tecnologias digitais contemporâneas também carrega um potencial para redemocratizar o conhecimento. Vivemos em um mundo onde a desigualdade no acesso à informação e ao saber ainda é profunda. Nesse sentido, a ciência aberta e a Web Semântica são ferramentas estratégicas para combater o colonialismo epistemológico, permitindo que saberes locais, especialmente dos países do Sul Global, tenham maior visibilidade e impacto. É uma oportunidade de ressignificar o que entendemos como produção científica, valorizando conhecimentos pluriversais e colaborativos.
Por fim, pensar ciência aberta em diálogo com a Web (que as vezes é 2.0, outras vezes é semântica) ajuda a imaginar um futuro onde o conhecimento esteja verdadeiramente ao alcance de todos, sem barreiras impostas por sistemas mercantilizados de publicação ou por limitações técnicas de acesso. Esse movimento representa uma luta política e ética, pois democratizar o conhecimento é, em essência, uma forma de resistir às estruturas de poder que historicamente o restringiram. O desafio está em consolidar práticas que não apenas possibilitem esse acesso, mas também garantam a inclusão de vozes marginalizadas na construção e disseminação do saber.